Capítulo 7: A questão energética: a usina e o abastecimento
O desenvolvimento de uma cidade, especialmente no século XX, está intrinsecamente ligado à disponibilidade de energia. A capacidade de gerar e distribuir eletricidade não apenas ilumina lares, mas também impulsiona indústrias, comércios e a qualidade de vida da população. Para Ijuí, a construção de sua própria usina hidrelétrica marcou um passo fundamental em sua jornada de progresso, garantindo autonomia e suprindo as demandas de um crescimento acelerado.
7.1. A Usina Hidrelétrica (Usina da Sede/Velha): operação em 1923
A autonomia energética foi um marco crucial na modernização de Ijuí. Em 15 de novembro de 1923, um evento de grande significado ocorreu para a cidade: a Usina Hidrelétrica entrou em operação. Sua localização estratégica no Rio Potiribu, nas proximidades da cidade, garantiu o fluxo de água necessário para a geração de energia. Rapidamente, ela se tornou conhecida como Usina da Sede e, com o tempo, para distingui-la de novas fontes de energia, passou a ser chamada de Usina Velha, um apelido que carrega consigo a memória de seu pioneirismo.
A inauguração e o funcionamento desta usina, durante a gestão do então intendente municipal Antônio Soares de Barros, representaram um "avanço significativo" não apenas para Ijuí, mas para toda a região. Antes dela, a dependência de fontes de energia mais rudimentares ou de importação onerosa limitava o potencial de crescimento da cidade. A eletricidade proporcionada pela Usina Velha começou a transformar a vida cotidiana, permitindo a iluminação pública e residencial, e fornecendo a força motriz para o funcionamento das nascentes indústrias e comércios. Era um passo decisivo para a infraestrutura que Ijuí precisava para consolidar sua posição como um polo regional.
7.2. A Sociedade Comercial Suíça do Brasil e Luchsinger & Cia.
A construção de uma obra de engenharia complexa como uma usina hidrelétrica, na década de 1920, exigia conhecimento técnico, capital e acesso a equipamentos especializados. Ijuí, mesmo sendo uma cidade jovem, demonstrou capacidade de atrair parcerias de alto nível para concretizar esse projeto vital.
A responsabilidade pela construção da usina foi da Sociedade Comercial Suíça do Brasil, que venceu a licitação para a empreitada. Essa empresa, com sua origem internacional, trazia consigo a experiência e a tecnologia necessárias para o desenvolvimento de infraestruturas dessa magnitude. A escolha de uma empresa com essa qualificação denota a seriedade e a ambição do projeto municipal.
Usina da Sede
Complementarmente, o maquinário essencial para a geração de energia foi fornecido pela firma Luchsinger & Cia., de Porto Alegre. Essa parceria com uma empresa já estabelecida na capital do estado garantia a qualidade e a confiabilidade dos equipamentos, elementos cruciais para a operação de uma usina. A combinação da capacidade internacional da Sociedade Suíça com o fornecimento de equipamentos por uma empresa nacional de renome demonstra a articulação e a visão estratégica dos gestores de Ijuí na época, que souberam buscar os melhores parceiros para concretizar um projeto tão fundamental para o desenvolvimento da cidade.
7.3. Expansão da capacidade e abastecimento regional
O sucesso da Usina Hidrelétrica de Ijuí logo evidenciou a crescente demanda por energia, um reflexo direto do rápido desenvolvimento da cidade e da região. A capacidade inicial da usina, embora significativa para a época, precisava ser ampliada para acompanhar o ritmo do progresso.
Para atender a essa demanda em constante crescimento, um segundo grupo gerador foi instalado em 1931, o que representou um aumento substancial na capacidade de produção. Com essa adição, a potência total de geração da Usina Velha elevou-se para 750 HP. Esse investimento demonstrava a proatividade da administração municipal em garantir que o fornecimento de energia não se tornasse um gargalo para o crescimento de Ijuí.
Nos anos seguintes, a busca por uma maior segurança energética e por capacidade de reserva levou à adição de grupos geradores auxiliares. Em 1948, um grupo térmico foi incorporado, oferecendo uma alternativa de geração que não dependia exclusivamente do fluxo do rio. Pouco depois, em 1951, um grupo a diesel foi instalado, ampliando ainda mais a flexibilidade e a robustez do sistema de abastecimento energético.
Mais do que suprir as necessidades de Ijuí, o funcionamento dessa usina representou um "avanço significativo" para toda a área circundante. Municípios vizinhos como Santo Ângelo e Cruz Alta passaram a ser abastecidos com a energia gerada em Ijuí. Esse fato não apenas solidificou a posição de Ijuí como um polo energético, mas também reforçou sua centralidade e importância para o desenvolvimento regional. A Usina Velha, portanto, não foi apenas uma infraestrutura local, mas um componente vital que impulsionou a eletrificação e o progresso de uma vasta área do noroeste gaúcho, atestando o papel de Ijuí como um motor de desenvolvimento para além de seus próprios limites.