Capítulo 8: População: crescimento e urbanização

A história de Ijuí é, fundamentalmente, a história de seu povo. A evolução demográfica da cidade, marcada por períodos de intenso crescimento e por transformações significativas em sua distribuição, é um reflexo direto de seu dinamismo econômico, de suas políticas de atração e dos desafios inerentes ao processo de urbanização. Acompanhar os números da população é observar o próprio pulso vital de Ijuí.

8.1. Dados censitários e estimativas ao longo do tempo (1897-2010)

O crescimento populacional de Ijuí é um dos indicadores mais claros de seu sucesso como polo de colonização e desenvolvimento. Desde seus primórdios, a cidade demonstrou uma notável capacidade de atrair e fixar pessoas, resultando em uma trajetória demográfica ascendente.

Essa análise cronológica revela que Ijuí experimentou um crescimento populacional notável ao longo de sua história. As taxas de crescimento foram mais elevadas nos primeiros anos e nas décadas de desenvolvimento mais intenso. Os fatores que influenciaram esses números são multifacetados, incluindo as ondas de imigração inicial, a natalidade elevada nas famílias de colonos, o êxodo rural (que impulsionou o crescimento urbano) e, também, a emancipação de distritos (como Jóia, Augusto Pestana, Ajuricaba, Coronel Barros e Bozano), que, ao se tornarem municípios independentes, levaram consigo parte da população que antes era contabilizada como de Ijuí. Esse panorama demográfico é essencial para compreender os desafios e as necessidades que a cidade enfrentou e continua a enfrentar em termos de infraestrutura social e econômica.

8.2. O Êxodo Rural e o crescimento desordenado

A partir da década de 1950, Ijuí, como muitas cidades brasileiras, vivenciou um fenômeno demográfico de grande impacto: o êxodo rural. Esse movimento de migração massiva da população do campo para as áreas urbanas transformou profundamente a estrutura e a dinâmica da cidade, provocando um crescimento acelerado e, muitas vezes, desordenado.

Historicamente, Ijuí possuía uma forte população rural, distribuída em suas linhas e distritos, dedicando-se à agricultura. No entanto, a modernização do campo (que exigia menos mão de obra), a busca por melhores oportunidades de emprego, acesso a serviços (educação, saúde) e a perspectiva de uma vida mais confortável e com mais acesso a bens de consumo nas cidades, impulsionaram os habitantes do interior a migrarem para o centro urbano de Ijuí.

Essa intensa migração gerou uma demanda explosiva por moradia e, consequentemente, uma rápida valorização dos terrenos urbanos. Com a pressão do crescimento e a necessidade urgente de abrigar a nova população, muitas áreas foram loteadas sem um planejamento adequado, resultando em um processo de loteamento irregular. As consequências dessa falta de planejamento eram visíveis: ruas mais estreitas, quarteirões menores, e uma organização urbana que se distanciava significativamente do traçado original, com suas quadras amplas e regulares. Essa expansão descontrolada "rompeu com o planejamento original da cidade", criando uma dicotomia entre o centro histórico, ainda com as marcas do positivismo, e as novas áreas, que surgiam de forma mais orgânica e, por vezes, caótica.

Os desafios para a administração municipal foram imensos. A rápida expansão urbana exigia uma extensão proporcional de serviços básicos. Redes de água e esgoto, energia elétrica, transporte público e coleta de lixo precisavam ser expandidas rapidamente para atender a esses novos bairros. Escolas, postos de saúde e equipamentos sociais também se tornaram urgências. Essa situação impôs um enorme ônus financeiro e logístico aos gestores de Ijuí, que precisavam correr para acompanhar o ritmo do crescimento populacional.

Apesar das dificuldades e do aspecto "desordenado" do crescimento em certas áreas, o êxodo rural também trouxe dinamismo à economia urbana, expandindo o mercado consumidor e a força de trabalho para o comércio e a indústria. Ijuí, portanto, precisou se adaptar e buscar um novo equilíbrio entre o ideal de seu planejamento original e a realidade de seu crescimento demográfico.