Capítulo 8: População: crescimento e urbanização
A história de Ijuí é, fundamentalmente, a história de seu povo. A evolução demográfica da cidade, marcada por períodos de intenso crescimento e por transformações significativas em sua distribuição, é um reflexo direto de seu dinamismo econômico, de suas políticas de atração e dos desafios inerentes ao processo de urbanização. Acompanhar os números da população é observar o próprio pulso vital de Ijuí.
8.1. Dados censitários e estimativas ao longo do tempo (1897-2010)
O crescimento populacional de Ijuí é um dos indicadores mais claros de seu sucesso como polo de colonização e desenvolvimento. Desde seus primórdios, a cidade demonstrou uma notável capacidade de atrair e fixar pessoas, resultando em uma trajetória demográfica ascendente.
1897: A recém-criada Colônia Ijuhy já abrigava 6.068 habitantes. Esse número, alcançado em menos de uma década desde a fundação oficial, atesta a eficácia da política de atração de imigrantes e a rápida organização do assentamento.
1912: O ano da emancipação política marcou um salto populacional expressivo. Estima-se que Ijuí contava com uma população entre 25 e 28 mil habitantes. Esse crescimento, impulsionado pela chegada contínua de imigrantes e pelo desenvolvimento econômico incipiente, legitimava a elevação da colônia à categoria de município.
1940: Duas décadas depois, a população continuava a crescer de forma constante, atingindo em torno de 40 mil habitantes. Esse período, que abrange a consolidação da ferrovia e o início da industrialização, viu a cidade se firmar como um centro regional.
1962: Os dados mostram um aumento contínuo, com Ijuí registrando 63.007 habitantes. Curiosamente, neste ano, há uma distinção clara entre a população urbana e rural: 19.487 habitantes na cidade e 43.520 no interior. Essa distribuição reflete a forte vocação agrícola do município e a dispersão dos colonos em suas propriedades rurais.
1990: No ano do centenário de sua fundação, a população de Ijuí era de 74.212 habitantes. Contudo, uma mudança significativa na distribuição era perceptível: 57.796 habitantes na cidade e 16.416 no interior. Esse dado indica um processo acelerado de urbanização, com a população se concentrando cada vez mais no perímetro urbano, um fenômeno nacional da época.
1996: O crescimento populacional seguiu em ritmo mais lento, com 75.575 habitantes. A tendência de urbanização se aprofundava: 68.849 na cidade e 11.726 no interior, evidenciando a migração do campo para os centros urbanos.
2000: O início do novo milênio registrou 78.285 habitantes, sendo 67.181 urbanos e 11.105 rurais. A distância entre a população urbana e rural continuava a aumentar, consolidando Ijuí como uma cidade predominantemente urbana.
2010: O Censo do IBGE contabilizou 78.920 habitantes. O crescimento tornou-se mais moderado, um reflexo de tendências demográficas nacionais e da consolidação de outros centros regionais.
2024: o Censo do IBGE indicou 87 775 habitantes em Ijuí. Um município que cresce consideravelmente por conta de atrativos no campo industrial e prestação de serviços.
Essa análise cronológica revela que Ijuí experimentou um crescimento populacional notável ao longo de sua história. As taxas de crescimento foram mais elevadas nos primeiros anos e nas décadas de desenvolvimento mais intenso. Os fatores que influenciaram esses números são multifacetados, incluindo as ondas de imigração inicial, a natalidade elevada nas famílias de colonos, o êxodo rural (que impulsionou o crescimento urbano) e, também, a emancipação de distritos (como Jóia, Augusto Pestana, Ajuricaba, Coronel Barros e Bozano), que, ao se tornarem municípios independentes, levaram consigo parte da população que antes era contabilizada como de Ijuí. Esse panorama demográfico é essencial para compreender os desafios e as necessidades que a cidade enfrentou e continua a enfrentar em termos de infraestrutura social e econômica.
8.2. O Êxodo Rural e o crescimento desordenado
A partir da década de 1950, Ijuí, como muitas cidades brasileiras, vivenciou um fenômeno demográfico de grande impacto: o êxodo rural. Esse movimento de migração massiva da população do campo para as áreas urbanas transformou profundamente a estrutura e a dinâmica da cidade, provocando um crescimento acelerado e, muitas vezes, desordenado.
Historicamente, Ijuí possuía uma forte população rural, distribuída em suas linhas e distritos, dedicando-se à agricultura. No entanto, a modernização do campo (que exigia menos mão de obra), a busca por melhores oportunidades de emprego, acesso a serviços (educação, saúde) e a perspectiva de uma vida mais confortável e com mais acesso a bens de consumo nas cidades, impulsionaram os habitantes do interior a migrarem para o centro urbano de Ijuí.
Essa intensa migração gerou uma demanda explosiva por moradia e, consequentemente, uma rápida valorização dos terrenos urbanos. Com a pressão do crescimento e a necessidade urgente de abrigar a nova população, muitas áreas foram loteadas sem um planejamento adequado, resultando em um processo de loteamento irregular. As consequências dessa falta de planejamento eram visíveis: ruas mais estreitas, quarteirões menores, e uma organização urbana que se distanciava significativamente do traçado original, com suas quadras amplas e regulares. Essa expansão descontrolada "rompeu com o planejamento original da cidade", criando uma dicotomia entre o centro histórico, ainda com as marcas do positivismo, e as novas áreas, que surgiam de forma mais orgânica e, por vezes, caótica.
Os desafios para a administração municipal foram imensos. A rápida expansão urbana exigia uma extensão proporcional de serviços básicos. Redes de água e esgoto, energia elétrica, transporte público e coleta de lixo precisavam ser expandidas rapidamente para atender a esses novos bairros. Escolas, postos de saúde e equipamentos sociais também se tornaram urgências. Essa situação impôs um enorme ônus financeiro e logístico aos gestores de Ijuí, que precisavam correr para acompanhar o ritmo do crescimento populacional.
Apesar das dificuldades e do aspecto "desordenado" do crescimento em certas áreas, o êxodo rural também trouxe dinamismo à economia urbana, expandindo o mercado consumidor e a força de trabalho para o comércio e a indústria. Ijuí, portanto, precisou se adaptar e buscar um novo equilíbrio entre o ideal de seu planejamento original e a realidade de seu crescimento demográfico.