Capítulo 11: A vida política e os gestores públicos

A autonomia de Ijuí como município, conquistada em 1912, abriu um novo capítulo em sua história: o da autogovernança. A partir de então, a cidade passou a ser moldada não apenas pelos planos de colonização ou pelas forças econômicas, mas também pelas visões, desafios e decisões de seus gestores públicos. Este capítulo oferece uma análise aprofundada da trajetória política de Ijuí, destacando os homens que a lideraram, os eventos que marcaram suas administrações e o legado deixado por cada um, culminando na lista completa de prefeitos e suas observações.

11.1. A Transição de colônia a município (1912)

O ano de 1912 é um divisor de águas na história de Ijuí. Até então, a localidade funcionava como uma colônia, sob a administração direta do governo estadual, por meio de comissões de terras e diretores. Embora já fosse um centro dinâmico, sua autonomia administrativa era limitada. A elevação à categoria de município representou um passo fundamental para a maturidade e o autogoverno de Ijuí, coroando um longo processo de crescimento e consolidação.

Essa conquista foi, em grande parte, o ápice da obra do engenheiro Augusto Pestana. Durante seus 13 anos e meio à frente da Colônia de Ijuhy (de 1899 a 1912), Pestana implementou uma gestão visionária que impulsionou o desenvolvimento em todas as frentes: o crescimento populacional, a expansão da infraestrutura (estradas e ferrovias), o fomento à agricultura e à indústria, e o avanço da educação. Todos esses elementos contribuíram para que Ijuí atingisse o porte e a complexidade necessários para pleitear e obter sua autonomia.

O ato de emancipação, um "marco histórico ocorrido em 31 de janeiro de 1912", conferiu a Ijuí a capacidade de eleger seus próprios representantes e de gerir seus recursos de forma independente. Com a emancipação, a cidade ganhava não apenas um novo status jurídico, mas também uma nova identidade e responsabilidade.

Após a elevação a município, Augusto Pestana, o grande artífice desse processo, assumiu provisoriamente como o primeiro Intendente de Ijuí. Sua permanência no cargo foi breve, de apenas alguns meses, pois em 11 de julho de 1912, ele passaria a função para o Coronel Antônio Soares de Barros, conhecido como Coronel Dico. A transição de Ijuí de uma colônia sob a tutela estadual para um município autônomo marcou o início de uma nova era, abrindo caminho para a formação de seu próprio sistema político e o desenvolvimento de suas instituições de governança local, conforme detalhado nas administrações subsequentes.

11.2. Os Primeiros Intendentes e Prefeitos (1912-2028)

A galeria de líderes que conduziram os destinos de Ijuí é um reflexo das diferentes épocas, dos desafios enfrentados e das visões que nortearam o desenvolvimento da cidade. Desde a emancipação em 1912 até a projeção do futuro, cada intendente e prefeito deixou sua marca, contribuindo para a construção da Ijuí que conhecemos hoje.

11.2.1. Augusto Pestana: o visionário e grande benfeitor (1899-1912)

A história de Ijuí e sua emancipação estão intrinsecamente ligadas à figura do engenheiro Augusto Pestana, um líder visionário que moldou decisivamente o destino da então colônia. Nascido no Rio de Janeiro em 1868, com formação em engenharia geográfica e civil, Pestana já possuía experiência significativa no Rio Grande do Sul antes de sua nomeação para Ijuí. Em dezembro de 1898, ele assumiu a direção da Colônia de Ijuhy, que àquela altura enfrentava sérios desafios, desde má gestão e conflitos entre as correntes imigratórias até os reflexos da turbulenta Revolução Federalista (1893-1895), que haviam restringido drasticamente os recursos governamentais.

Ao tomar posse em 1º de janeiro de 1899, Augusto Pestana demonstrou imediatamente sua capacidade conciliadora. Em uma reunião histórica com os líderes da comunidade, no local que viria a ser conhecido como Alto da União, ele conseguiu pacificar as diversas facções e estabelecer uma base de união para o trabalho. A partir dessa base, sua gestão, que durou treze anos e meio, focou em diretrizes claras para o desenvolvimento, com ênfase primordial em investimentos em infraestrutura e educação, além de fomentar a diversificação econômica da colônia.

Sob a administração de Pestana, Ijuí experimentou um crescimento notável. A população saltou de seis mil para 28 mil habitantes. Ele racionalizou a política de assentamentos rurais, priorizando famílias com experiência agrícola e atraindo imigrantes qualificados, enquanto reservava o núcleo urbano para vocações industriais e comerciais. A infraestrutura avançou significativamente, com a construção de 300 quilômetros de estradas carroçáveis e 500 quilômetros de estradas vicinais, pontes sobre rios e arroios, e a existência de diversas barcas no Rio Ijuí Grande, facilitando o transporte e a comunicação. A viação de rodagem de Ijuí tornou-se uma das melhores do Estado, um reflexo de seu planejamento e dedicação.

A educação também foi um pilar de sua gestão, com 32 escolas em funcionamento e uma matrícula de 1.600 crianças, demonstrando um compromisso com a formação das novas gerações. A colônia prosperou economicamente, registrando a presença de dezenas de casas comerciais, serrarias, moinhos, engenhos, fábricas de diversos tipos, e uma ampla gama de serviços e profissionais liberais. Um empreendimento de destaque foi a implantação da linha férrea ligando Cruz Alta a Ijuí, cuja inauguração oficial ocorreu no dia 19 de outubro de 1911 (embora o tráfego tenha sido efetivado em 1912), que impulsionou o escoamento de produtos e as atividades exportáveis. Por volta de 1909, Pestana também promoveu a pacificação entre Chimangos e Maragatos, demonstrando sua liderança política e social.

O ápice da obra de Augusto Pestana foi, sem dúvida, a elevação da vila de Ijuí à categoria de município autônomo, um marco histórico ocorrido em 31 de janeiro de 1912. Após a emancipação, ele assumiu provisoriamente como o primeiro Intendente de Ijuí, permanecendo no cargo por alguns meses antes de passá-lo ao Coronel Antônio Soares de Barros em 11 de junho de 1912. A gestão de Pestana não apenas transformou Ijuí em um centro de progresso, mas também estabeleceu as bases para sólidas políticas públicas, tornando-se um modelo de desenvolvimento para o noroeste gaúcho e um exemplo duradouro na história do estado. Por tudo o que realizou, Augusto Pestana é, sem dúvida, o grande benfeitor de Ijuí.

Após sua saída de Ijuí, a trajetória de Augusto Pestana continuou marcada por um intenso engajamento na vida pública e na engenharia, agora em âmbito estadual e federal. Ele foi nomeado engenheiro chefe do Distrito de Porto Alegre da Repartição Geral dos Telégrafos e, em seguida, diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Sua influência se expandiu ainda mais quando foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul por várias legislaturas, onde se destacou na defesa da modernização e ampliação do sistema ferroviário brasileiro, priorizando os interesses nacionais sobre as concessões estrangeiras. Sua visão culminou na criação da Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS), da qual foi presidente entre 1920 e 1924, implementando uma gestão que recuperou e expandiu o transporte ferroviário no estado. Posteriormente, ocupou cargos importantes como Secretário de Obras Públicas do Rio Grande do Sul e assumiu a gestão do porto da capital, consolidando seu legado como um dos grandes nomes da infraestrutura e do desenvolvimento nacional, com seu nome perpetuado em diversas homenagens e instituições.

11.2.2. Cel. Antônio Soares de Barros (Coronel Dico): o controvertido líder e comerciante 

Antônio Soares de Barros, carinhosamente conhecido como Cel. Dico, foi uma figura central e, por vezes, controvertida na consolidação de Ijuí, destacando-se por sua notável trajetória empreendedora, seu papel político significativo e sua vida dedicada ao comércio. Natural de Lagoa Vermelha, Dico chegou à recém-fundada Colônia de Ijuhy em 1890, juntamente com seu irmão Salatiel Soares de Barros. Chegaram com poucas mercadorias – uma pipa de cachaça, sabão, açúcar e café – e abriram um pequeno bolicho, o embrião do que viria a ser a famosa Casa Dico.

Os negócios prosperaram rapidamente. Em 1900, a Casa Dico já estava instalada em um imponente prédio próprio de alvenaria, na esquina da Rua do Comércio com a 7 de Setembro. A loja não apenas comercializava uma vasta gama de produtos – de tecidos e utensílios a ferramentas e gêneros alimentícios, muitos dos quais eram trocados por produtos dos colonos –, mas também representava grandes importadoras como a Bromberg e atuava como agente da "The Texas Company S.A." (futura Texaco). Em 1910, expandiu sua atuação ao se tornar correspondente do Banco Nacional do Comércio. A Casa Dico desempenhou um papel crucial em grandes obras, intermediando a compra e venda de materiais para a construção da Usina Velha e da Ponte Ferroviária do Itaí, e foi responsável pela exportação de produtos coloniais de Ijuí, como banha, cereais e couros, estendendo sua rede com representantes em Porto Alegre, São Paulo e filiais, como o armazém em Santo Ângelo. Em 1925, a Casa Dico mudou o ramo de negócios, tornando-se concessionária Chevrolet e construindo uma nova sede. Sua modernização em 1925 reforçou seu papel como um centro vibrante de comércio e convivência.

No campo político, Antônio Soares de Barros assumiu uma posição de liderança em um momento crucial da história de Ijuí. Após a emancipação da Colônia e sua elevação a município, em 11 de julho de 1912, o Coronel Dico foi nomeado para suceder o Dr. Augusto Pestana como o Intendente provisório. Sua nomeação foi amplamente aceita pela população, refletindo o respeito e a confiança que havia construído através de suas atividades comerciais e de seu relacionamento com a comunidade.

Ele passou para a história como o administrador que por mais tempo esteve à testa dos destinos de Ijuí, em dois períodos distintos: de 11 de julho de 1912 a 21 de abril de 1925, e novamente de 15 de abril de 1932 a 3 de janeiro de 1938. Foi descrito como um administrador "austero e severo", mas suas gestões foram marcadas por importantes realizações: desenvolveu e ampliou a malha rodoviária, aumentou o número de escolas, promoveu melhorias das ruas na área urbana, e expandiu as linhas telefônicas. Outras obras marcantes foram a construção da Usina da Sede (hoje conhecida como Usina Velha), a construção de uma ponte metálica sobre o Rio Ijuí e a construção do atual prédio da Prefeitura.

A mudança de foco e cidade marcou a fase final da vida de Cel. Dico. Com a implementação do Estado Novo no final dos anos 1930, ele e sua família se mudaram estrategicamente para Porto Alegre. Na capital gaúcha, Cel. Dico continuou sua veia empreendedora, construindo o renomado Hotel Embu e inaugurando uma nova filial da Casa Dico na Avenida Farroupilha, agora diversificada para o setor automotivo. Antônio Soares de Barros transferiu-se definitivamente para Porto Alegre após sua renúncia à Prefeitura de Ijuí em 1938, falecendo na capital em 22 de dezembro de 1955, aos 85 anos. Seu legado em Ijuí permanece vivo, não apenas pelo pioneirismo comercial da Casa Dico, mas também por sua breve, porém significativa, contribuição política como um dos primeiros líderes do recém-emancipado município. Cel. Dico é lembrado como um empresário visionário e um cidadão engajado que ajudou a moldar a identidade de Ijuí.

11.2.3. Cel. Alfredo Steglich: modernização e desenvolvimento (1925-1928)

O Cel. Alfredo Steglich teve uma trajetória administrativa marcante em Ijuí, sucedendo Antônio Soares de Barros no comando municipal. Sua atuação iniciou-se formalmente em 28 de fevereiro de 1912, com a nomeação como Vice-Intendente (conforme ato nº 16), o que lhe deu um primeiro contato com a gestão municipal. Durante este período inicial, a gestão de recursos sob sua responsabilidade registrou uma renda considerável, demonstrando sua competência em finanças públicas.

Posteriormente, em 25 de março de 1925, o Tenente-Coronel Steglich foi eleito Intendente Municipal, assumindo o cargo no mês de abril subsequente. Sua administração como Intendente se estendeu até 14 de janeiro de 1928, quando foi substituído. É relevante notar que ele não concluiu seu mandato, havendo uma nova eleição para o cargo em 18 de março de 1928, o que sugere alguma instabilidade política ou mudança de planos.

Apesar da duração relativamente curta, a gestão do Intendente Cel. Alfredo Steglich foi caracterizada por um intenso esforço de modernização e desenvolvimento, abrangendo diversas áreas essenciais para o progresso de Ijuí. Sua administração demonstrou um claro direcionamento para a otimização da infraestrutura, a expansão dos serviços públicos e o investimento em setores cruciais que visavam o bem-estar e o avanço da comunidade local. Ele buscou implementar melhorias significativas que ecoariam no futuro do município.

Entre as realizações mais notáveis de seu período à frente da intendência, destacam-se os avanços na educação pública, com a expansão do número de classes e subclasses, além do incentivo ativo à criação de novas instituições de ensino, resultando em um aumento expressivo no total de alunos matriculados. Paralelamente, houve investimentos consideráveis na infraestrutura viária, com a construção e manutenção de estradas, pontilhões e bueiros, visando aprimorar o transporte e a comunicação dentro do município. Um marco fundamental foi a modernização e ampliação da usina hidroelétrica, que resultou em uma significativa expansão da capacidade de distribuição de energia elétrica, beneficiando residências e indústrias e sublinhando um compromisso com o avanço energético da cidade.

Adicionalmente, a administração de Steglich dedicou atenção à melhoria dos edifícios públicos, realizando reformas e aprimoramentos em construções importantes como o Mercado e o Hospital. A rede de iluminação pública também foi estendida, contribuindo para a segurança e a qualidade de vida dos cidadãos. Em suma, a gestão do Cel. Alfredo Steglich em Ijuí foi marcada por uma visão estratégica, direcionando recursos para investimentos fundamentais em infraestrutura, educação e energia, com o objetivo de impulsionar o crescimento e o bem-estar da comunidade, mesmo diante dos desafios financeiros inerentes ao período.

11.2.4. Dr. Ulrich Kuhlmann: médico, intendente e intelectual (1928-1932)

A figura do Dr. Ulrich Kuhlmann é uma das mais multifacetadas e notáveis na história de Ijuí, abrangendo medicina, política, vida comunitária e até descobertas científicas. Nascido na Alemanha em 1884, Kuhlmann, médico e farmacêutico, imigrou para o Brasil em 1913, estabelecendo-se em Ijuí.

Sua contribuição pioneira na medicina de Ijuí foi inestimável. Por mais de 30 anos, dedicou-se à prática médica, deixando uma marca indelével na saúde local. Foi o visionário que criou e administrou o primeiro Hospital de Ijuí em 1915, uma iniciativa fundamental para a época, localizada na rua 19 de Outubro, em frente ao antigo Frigorífico Serrano. Além disso, destacou-se como um dos fundadores da Associação Hospital de Caridade de Ijuí (HCI), pavimentando o caminho para o desenvolvimento hospitalar da região e mostrando seu espírito humanitário.

A influência de Ulrich Kuhlmann em Ijuí transcendeu amplamente a área da medicina. Ele se envolveu ativamente na vida pública, assumindo o cargo de Intendente Municipal (equivalente a prefeito) de Ijuí entre 15 de abril de 1928 e 15 de abril de 1932, demonstrando sua capacidade de liderança cívica. Sua atuação se estendeu à comunidade evangélica, onde foi uma figura proeminente e presidente por muitos anos, sendo decisivo para a aquisição e instalação do relógio da Igreja Evangélica, que ostenta até hoje. Kuhlmann também desempenhou um importante papel diplomático como Vice-Cônsul da Alemanha no Rio Grande do Sul, prestando relevantes serviços, especialmente durante as Guerras Mundiais, atuando como ponte entre a comunidade alemã e as autoridades locais.

Além de suas responsabilidades profissionais e públicas, Dr. Kuhlmann cultivava uma série de interesses intelectuais que revelam sua curiosidade e vasto conhecimento. Dedicava-se com afinco ao estudo e catalogação de novas espécies de cactos, demonstrando seu apreço pela botânica. Era também um entusiasta da fotografia, registrando imagens históricas de Ijuí que hoje compõem acervos importantes. Seu fascínio pela astronomia o levou a um feito extraordinário: em 1918, descobriu uma nova estrela, batizada de "Nova Aquilae", um feito inédito e mundialmente reconhecido que sublinhou sua contribuição para a ciência e sua mente privilegiada.

A vida de Ulrich Kuhlmann, no entanto, não foi isenta de desafios. Com a adesão do Brasil aos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial em 1942, ele e sua esposa Margret sofreram perseguição política, sendo forçados a deixar Ijuí e residir em Porto Alegre. Apesar das adversidades, suas contribuições para Ijuí foram finalmente reconhecidas. Em novembro de 1964, aos 80 anos, ele recebeu o honroso título de cidadão benemérito da cidade. Dr. Ulrich Kuhlmann faleceu em Porto Alegre em 16 de novembro de 1979, deixando um legado multifacetado de serviço, liderança e intelecto que permanece na história de Ijuí como um exemplo de humanidade e erudição.

11.2.5. Dr. Emílio Martins Bührer: cultura, infraestrutura e desafios políticos (1938-1943)

Emílio Martins Bührer assumiu a prefeitura de Ijuí em um período de transição política e administrativa, nomeado prefeito municipal em 25 de janeiro de 1938, após a exoneração do Coronel Antônio Soares de Barros. Advogado de formação, Bührer já se destacava como um combativo vereador de oposição, o que conferia à sua gestão um perfil de ruptura e renovação em relação à administração anterior. Assumiu o cargo em 29 de janeiro do mesmo ano e permaneceu à frente do executivo por aproximadamente cinco anos, até 17 de dezembro de 1943. Encontrou um município com finanças saudáveis, sem dívidas e com recursos em caixa, o que lhe permitiu iniciar uma série de projetos ambiciosos e transformadores.

Sua administração foi marcada por um vigoroso impulso na área cultural e educacional. Bührer foi o responsável pela limitação das zonas urbanas e suburbanas de importantes distritos em 1938, uma medida de planejamento territorial. No ano seguinte, em 29 de janeiro de 1939, inaugurou a Biblioteca Pública Municipal, instalada no salão nobre da prefeitura, com a inovadora iniciativa de criar um sistema de empréstimos de livros em 1941 e, posteriormente, sucursais da biblioteca em cada distrito, democratizando o acesso à cultura. Além disso, dedicou atenção ao melhoramento das escolas municipais, oferecendo cursos de acesso ao magistério, e apoiou a construção do Colégio Sagrado Coração de Jesus e a instalação do quartel do Exército Brasileiro, fortalecendo a presença militar na cidade.

No campo da infraestrutura e desenvolvimento urbano, a gestão de Emílio Bührer demonstrou grande dinamismo. O prefeito solicitou estudos para a solução do problema de abastecimento de água, com a proposta de reaproveitar as águas do rio Potiribu (embora a concretização tenha ocorrido apenas em 1948). Adquiriu uma patrola niveladora em 1939, essencial para a manutenção das vias, e viabilizou a construção de um campo de aviação em Ijuí no mesmo ano. A Colônia Modelo foi liquidada em 1943, e aproveitando sua infraestrutura, foi criada a Escola Capatazes Rurais Assis Brasil, um prenúncio do IMEAB. Bührer impulsionou a construção e reconstrução de inúmeras pontes, bueiros e estradas, além de realizar o calçamento e melhoramento de diversas vias, e dar um significativo impulso na expansão das redes elétricas e hidráulicas na zona urbana.

Apesar das numerosas realizações, a administração de Bührer enfrentou momentos delicados devido à forte oposição de setores ligados à gestão anterior, notadamente representados pela Associação Comercial de Ijuí (ACI). Essa oposição, insatisfeita com o fim de um regime de favoritismo que perdurava há décadas, levou o prefeito a buscar apoio do Interventor Coronel de Farias para lidar com a situação. Contando com esse respaldo, Bührer conseguiu manter uma administração eficaz. No entanto, sua trajetória na prefeitura chegou ao fim em 24 de dezembro de 1943, quando decidiu passar o cargo ao prefeito substituto, Álvaro de Carvalho Nicofé, e não mais reassumir. Emílio Martins Bührer, nascido em 1911, faleceu em um acidente de carro em 1968, mas seu legado de obras e transformações permaneceu em Ijuí.

11.2.6. Maj. Álvaro de Carvalho Nicofé: a transição em tempos de guerra (1943-1945)

Álvaro Carvalho Nicofé, nascido em 15 de outubro de 1885 em Lagoa Vermelha, chegou a Ijuí aos 18 anos, a convite do Coronel Antonio Soares de Barros. Sua trajetória profissional anterior à política incluiu atuações como caixeiro viajante para a casa comercial do Coronel Dico, gerente do Banco Nacional do Comércio, e, posteriormente, oficial de registro de imóveis e Juiz de Paz, demonstrando uma vida dedicada a diferentes frentes de trabalho. Curiosamente, seu apelido "Nicofé" teria sido adotado do nome de um cacique kaingang, revelando uma peculiaridade em sua identidade.

Nicofé assumiu a prefeitura de Ijuí como "prefeito substituto" em 11 de dezembro de 1943, após a saída de Emílio Martins Bührer, e em 24 de dezembro do mesmo ano, tornou-se "prefeito provisório". Sua administração efetiva, que durou de 25 de maio de 1944 a 20 de agosto de 1945, foi relativamente breve, durando pouco mais de um ano. Esse período, marcado pelo contexto da "economia de guerra" que o Brasil vivia (referindo-se à Segunda Guerra Mundial), foi considerado rotineiro e não deixou relatórios oficiais detalhados de obras e grandes realizações. A prioridade era manter o funcionamento essencial da máquina pública em um cenário de escassez de recursos e prioridades nacionais. No entanto, registros da época indicam sua participação em eventos cívicos, festas e viagens a Porto Alegre em busca de recursos para o município, mostrando seu empenho em um período desafiador.

Embora sua passagem pela chefia do executivo municipal não tenha sido amplamente expressiva em termos de grandes obras, Álvaro Carvalho Nicofé era um homem amplamente conceituado e respeitado na comunidade ijuiense. Sua vida pregressa e seu engajamento em diversas funções públicas e privadas contribuíram para sua boa reputação. Em seu lugar, assumiu Antonio Setembrino Lopes, que ficou na prefeitura até 1947. Nicofé faleceu em 20 de junho de 1964, aos 72 anos, solteiro, deixando a memória de um cidadão respeitável que, mesmo em um breve mandato, contribuiu para a continuidade da administração municipal em tempos de guerra.

11.2.7. Maj. Antônio Setembrino Lopes: liderança e obras estruturais (1945-1947)

Antônio Setembrino Lopes, nascido em 2 de setembro de 1885 em Cerro Pelado, São Luiz Gonzaga, teve uma vida marcada pela liderança e serviço público. Embora adotado na infância e tendo herdado o sobrenome Lopes, sua formação no Liceu Agrícola de sua cidade natal o preparou para uma trajetória de destaque. Mudou-se para Ijuí em 1916, onde passou a ocupar diversos cargos públicos, tanto municipais quanto estaduais, sempre contando com o apoio da comunidade. Sua vida pessoal incluiu dois casamentos, primeiro com Cacilda Panichi e, após enviuvar, com a cunhada Sylvia Panichi.

Sua participação política e militar foi notável: engajou-se na Revolução de 1923 como Capitão Ajudante e, em 1930, serviu como Major Fiscal, tornando-se conhecido, a partir de então, como Major Antônio Setembrino Lopes. Após a redemocratização do País, a partir de 1945, filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD), do qual foi um dos fundadores.

Como prefeito nomeado, exerceu por dois curtos períodos a chefia do Executivo Municipal de Ijuí, de 20 de agosto de 1945 a 17 de novembro do mesmo ano (substituindo Álvaro Carvalho Nicofé), e novamente de 22 de dezembro de 1945 a 9 de outubro de 1947. Sua administração foi reconhecida pelo tino administrativo, espírito conciliador e habilidade política, que lhe granjearam a admiração e o apreço da comunidade.

Durante seu mandato, realizou três obras importantes: a aquisição da Usina Termo-Elétrica, de 400 KW, visando minorar o crucial problema de fornecimento de energia elétrica então enfrentado pelo município; a criação do posto Agropecuário de Ijuí, importante para o desenvolvimento rural; e a remodelação e ampliação do serviço telefônico, modernizando as comunicações.

Além de suas contribuições na administração pública, Antônio Setembrino Lopes foi uma figura proeminente na vida social de Ijuí, desempenhando papéis importantes em diversas entidades. Presidiu a Associação Comercial de Ijuí (ACI), o extinto Tiro de Guerra, o Clube Ijuí e o Grêmio Ijuiense de Letras, entre inúmeras outras associações. Descrito pelo Jornal Correio da Manhã como um homem de espírito sereno e equilibrado, sua passagem por vários postos da administração pública e entidades foi marcada por sua personalidade cativante e sua invejável capacidade de realizar projetos. Também integrou a comissão que trouxe para Ijuí um grupo de religiosas italianas, da Congregação das Filhas do Sagrado Coração de Jesus (fundadoras do Colégio Sagrado Coração de Jesus), e da comissão que fundou o Ginásio Duque de Caxias, tornando-se um grande colaborador desses dois estabelecimentos de ensino. Antônio Lopes faleceu em 9 de setembro de 1949, deixando um legado duradouro de serviço e liderança em Ijuí.

11.2.8. Joaquim Porto Villanova: o primeiro eleito pós-Estado Novo (1947-1951)

Joaquim Porto Villanova emergiu como uma figura política central em Ijuí ao se tornar o primeiro prefeito eleito após o período do Estado Novo. Sua vitória ocorreu em 15 de novembro de 1947, representando o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Ele superou Alberto Hoffmann (PRP) e Dr. Solon Gonçalves da Silva (PSD) em um pleito que marcou a retomada da democracia municipal. Sua chegada à cidade, via Cruz Alta, foi marcada por uma recepção entusiasmada e comícios que o aclamavam como um homem competente, trabalhador, justo e, acima de tudo, honesto. Sua eleição, sob o slogan "Justiça e Moralidade", foi um feito notável, especialmente considerando que seu partido possuía menor representatividade no legislativo municipal, o que evidenciou uma forte aceitação popular de sua plataforma. Vale notar que, durante a transição, Ruben Kessler da Silva ocupou a prefeitura interinamente entre 18 de outubro e 22 de novembro de 1947.

Ao assumir a administração municipal em 24 de novembro de 1947, Vila Nova realizou um diagnóstico minucioso da situação de Ijuí. Em seu primeiro relatório, de 1948, apontou deficiências e irregularidades significativas, especialmente nos serviços de água e luz, o esgotamento da capacidade da usina elétrica e as péssimas condições das estradas, com a britadeira inoperante. Ele também expressou insatisfação com a desorganização da instrução pública e o fechamento da Escola de Capatazes Rurais. No entanto, destacou positivamente a saúde financeira do município, que apresentava baixo débito e um saldo otimista.

A gestão de Joaquim Porto Vila Nova, que durou até 31 de dezembro de 1951, foi distintamente marcada por importantes obras de infraestrutura que visavam modernizar e desenvolver Ijuí. Sua administração foi responsável pela ampliação da rede elétrica, tanto na área urbana de Ijuí quanto nos distritos, e pela construção e reconstrução de pontes, pontilhões e bueiros, com especial atenção à ponte sobre o rio Conceição, um ponto vital para a integração regional. Essas ações demonstraram um compromisso tangível com o progresso do município.

A relevância da administração de Joaquim Porto Vila Nova é acentuada pelo contraste com as gestões anteriores, que, sendo nomeadas e ocorrendo em tempos de guerra, tiveram poucas realizações significativas. A eleição de Vila Nova, vindo de um partido com menor representatividade legislativa, sinalizou uma era de grandes obras e moralização administrativa, alinhada à sua campanha de "Justiça e Moralidade". Apesar de desafios internos, como a questão da remuneração dos vereadores, sua gestão conseguiu implementar melhorias duradouras, solidificando seu legado por meio de ações concretas que transformaram Ijuí.

11.2.9. Ruben Kessler da Silva: modernização e expansão (1952-1955)

Ruben Kessler da Silva foi uma figura proeminente na história de Ijuí, com uma trajetória política que incluiu uma breve nomeação e um significativo mandato eletivo como prefeito. Nascido em 6 de outubro de 1910 em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, filho de Mário Veríssimo da Silva e Florentina Horbach Kessler, casou-se com Odila Ilgenfritz em Ijuí, em 15 de maio de 1937, onde constituiu família. Sua entrada na vida pública local ocorreu com uma nomeação como Prefeito entre 12 de outubro e 22 de novembro de 1947 (como interino, antes de Villanova). Contudo, foi durante seu mandato eletivo, de 1º de janeiro de 1952 a 31 de dezembro de 1955, que Ruben Kessler da Silva consolidou um período de marcante desenvolvimento e modernização para o município, tendo Orlando Dias Athayde (PL) como vice, e uma vitória apertada por apenas oito votos.

A administração de Kessler da Silva foi amplamente caracterizada por um robusto investimento em infraestrutura, crucial para o crescimento de Ijuí. No setor de energia, o Serviço de Eletricidade iniciou a construção de uma nova usina e buscou a autossuficiência energética, resultando em um expressivo crescimento na produção e consumo entre 1952 e 1954. No transporte, o Departamento Municipal de Estradas de Rodagem (D.M.E.R.) foi equipado com máquinas pesadas, permitindo a abertura de novas vias e a melhoria das existentes. Além disso, 23 quadras em três ruas centrais foram calçadas, uma ponte sobre o Rio Ijuízinho foi construída e o serviço de telefonia expandiu-se notavelmente, com novas linhas e parcerias com cidades vizinhas.

Para além das obras de engenharia, o governo de Ruben Kessler da Silva promoveu avanços significativos nas áreas social e administrativa. O Serviço de Fomento Agrícola foi essencial para o apoio aos produtores rurais, oferecendo sementes, combate a pragas e assistência técnica. Na educação, criou o Setor de Ensino Público Municipal e estabeleceu novas escolas, incluindo a Escola Normal Rural "Assis Brasil", e colaborou na criação de outras três escolas rurais. A segurança pública foi aprimorada com a destinação de terreno para o Corpo de Bombeiros, foram criados parques infantis e a Banda Municipal foi reorganizada. Administrativamente, houve a formação do Conselho de Assessoramento do Plano Diretor e da Comissão Municipal de Turismo, modernização dos escritórios da prefeitura e a construção de uma nova sala para o Arquivo Municipal, refletindo a eficiência de sua gestão que encerrou o mandato com saldo positivo.

O período em que Ruben Kessler da Silva esteve à frente da prefeitura de Ijuí, especialmente em seu mandato eletivo, representou uma era de intensa modernização e expansão para o município. Suas ações abrangeram desde a eletrificação e infraestrutura viária até o fomento agrícola e a educação, lançando as bases para o desenvolvimento futuro de Ijuí e tornando-o um período de progresso marcante. Ruben Kessler da Silva faleceu em 14 de dezembro de 1997, na mesma Ijuí que tanto contribuiu para construir e desenvolver, aos 87 anos, deixando uma marca indelével na história da cidade como um gestor visionário e um cidadão engajado.

11.2.10. Lothar Friedrich: desafios e prioridades (1956-1959)

Lothar Friedrich assumiu a Prefeitura de Ijuí em janeiro de 1956, após ser eleito em 3 de outubro de 1955 pela coligação PSD e PRP, aos 40 anos de idade. Sua posse ocorreu em um momento que ele próprio descreveu como de "enormes dificuldades, talvez as maiores de toda a história de Ijuí", indicando o cenário desafiador que enfrentaria. Entre os projetos já existentes sobre sua mesa, destacava-se a construção de uma usina municipal no rio Ijuí, uma iniciativa que, embora promissora, somava-se à complexidade da gestão que se iniciava.

Diante do quadro de adversidades, Lothar Friedrich agiu prontamente, convocando os chefes dos serviços municipais para estabelecer metas claras e prioritárias. Uma das primeiras deliberações foi a determinação de que todas as obras e serviços já em andamento deveriam ser continuados e concluídos. A escassez de água, um dos problemas mais urgentes da época, foi combatida com a organização de um sistema diário de distribuição por caminhões-pipa. Paralelamente, deu-se início imediato à construção da Usina do Passo de Ajuricaba, com a abertura do canal adutor, um projeto vital para o abastecimento energético futuro. A gestão também se dedicou ativamente aos trabalhos de calçamento na cidade e à manutenção das estradas municipais, visando melhorias infraestruturais essenciais.

A atuação de Friedrich transcendeu as obras físicas, buscando também fortalecer a estrutura institucional e social do município. Durante sua gestão, que durou até 31 de dezembro de 1959, houve um desenvolvimento e fortalecimento de diversas seções e departamentos municipais, incluindo os de eletricidade e saneamento, obras e viação, e o departamento de ensino, beneficiando tanto a área urbana quanto as sedes distritais. Sua administração, embora desafiadora, demonstrou uma clara priorização das necessidades básicas da população e um compromisso com o avanço da infraestrutura municipal.

11.2.11. Beno Orlando Burmann: obras, desafios e o Movimento da Legalidade (1960-1963)

Beno Orlando Burmann (1925-2006) foi uma figura central na política e administração de Ijuí, deixando um legado multifacetado. Nascido em Santa Maria da Boca do Monte, mudou-se para Ijuí em 1939, onde iniciou sua vida profissional em um estabelecimento comercial e, posteriormente, na Associação Comercial e Industrial de Ijuí (ACI), onde ascendeu a secretário. Sua formação incluiu um diploma de contador pela Escola Técnica de Comércio em 1946, fornecendo-lhe uma base sólida para suas futuras atividades.

A incursão de Burmann na vida pública começou em 1947, com a co-fundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em Ijuí. No mesmo ano, foi eleito o primeiro vereador representante da juventude trabalhista do município, marcando o início de uma prolífica carreira política. Paralelamente, Burmann manteve uma vida profissional diversificada: atuou como fiscal e inspetor da Secretaria Estadual da Fazenda, foi proprietário do moinho Arroio do Leão, produtor rural e um dos fundadores da Cooperativa Tritícola de Ijuí (Cotrijuí), demonstrando um forte engajamento em diferentes setores da economia local.

Sua trajetória política culminou na eleição para Prefeito Municipal de Ijuí, com mandato exercido entre 3 de janeiro de 1960 e 6 de julho de 1963. A vitória nas urnas em 1959 foi resultado de uma coligação atípica entre o PTB e o PRP (com Eugênio Michaelsen como vice), partidos historicamente antagônicos localmente. Contudo, a transição foi conturbada: em 1º de janeiro de 1960, a ausência de vereadores impediu o quórum necessário para sua posse, gerando um vácuo de poder de quase três dias. A crise institucional foi contornada apenas em 3 de janeiro, permitindo a formalização da transmissão de cargo e a posse de Burmann.

O mandato de Beno Orlando Burmann foi notável pela intensa agenda de obras públicas e iniciativas sociais, apesar das persistentes divergências internas com membros da coligação, especialmente o PRP. Na infraestrutura, houve expressivo investimento em eletrificação rural, construção de redes de transmissão e distribuição, além da continuidade dos trabalhos de calçamento e asfaltamento de vias urbanas. O setor da educação recebeu atenção prioritária, com a construção ou recuperação de 37 escolas entre 1961 e 1962, a construção do internato masculino da Escola Municipal Rural Assis Brasil e a concessão de bolsas de estudo para alunos carentes, evidenciando seu compromisso com o desenvolvimento social.

Um dos pontos mais complexos de sua gestão foi a discussão sobre a encampação das usinas de Ijuí pelo Estado. Burmann, que fora acusado de ser favorável à transferência durante a campanha, defendeu que a titularidade das usinas pertencia ao povo e que qualquer alteração visaria à melhoria do serviço. No entanto, o projeto de lei sobre a encampação foi arquivado pelo presidente da Câmara, vereador Walter Müller, sob alegação de falhas formais, demonstrando as tensões políticas internas que sua administração enfrentava.

Além dos desafios administrativos, Beno Orlando Burmann desempenhou um papel crucial no cenário político nacional, especialmente durante o Movimento da Legalidade em 1961. Ele foi fundamental na articulação do apoio de Ijuí ao movimento liderado por Leonel Brizola, defendendo a posse constitucional de João Goulart. A "Proclamação ao Povo de Ijuí", assinada por ele e pelo presidente da Câmara, solidificou a posição do município em um momento de grande instabilidade política. Sua gestão na prefeitura foi encerrada antecipadamente em 6 de junho de 1963, quando assumiu o cargo de deputado estadual, para o qual havia sido eleito, marcando o início de mais um capítulo em sua duradoura e influente carreira política.

11.2.12. Eugênio Michaelsen: o vice que assumiu (1963)

Eugênio Michaelsen foi uma figura política importante em Ijuí, notavelmente servindo como vice-prefeito na gestão de Beno Orlando Burmann, no período de 1960 a 1963. Ele era filiado ao PRP (Partido de Representação Popular) e fez parte de uma coligação eleitoral vitoriosa nas eleições municipais de 1959, que uniu o PRP ao PTB de Burmann.

Essa coligação, embora vencedora nas urnas, foi descrita como "tumultuada" e enfrentou divergências significativas desde o início, especialmente quanto à nomeação de subprefeitos. As tensões culminaram em um impasse institucional na transição de poder em janeiro de 1960, quando a ausência de vereadores, incluindo os dois eleitos pelo PRP (Walter Müller e Rodolfo Hildebrandt), impediu o quórum necessário para a posse, gerando um vácuo de poder de quase três dias.

Michaelsen registrou suas percepções sobre esse período em seu livro de memórias, intitulado "Memórias", onde analisou o acordo interpartidário e o descreveu como a "mais traumática das coligações" para ele e muitos de seus correligionários. Apesar da vitória no Executivo, ele lamentou o "enfraquecimento da legenda" do PRP, que elegeu apenas dois representantes para a Câmara Municipal, o que o deixava com pouca base de apoio no legislativo.

Um fato relevante de sua trajetória é que, com a saída antecipada de Beno Orlando Burmann da prefeitura em 6 de junho de 1963 para assumir o cargo de deputado estadual, Eugênio Michaelsen, na condição de vice-prefeito, assumiu então a administração municipal de Ijuí. Ele permaneceu no cargo de prefeito até 31 de dezembro de 1963, garantindo a continuidade administrativa e o fechamento do mandato de seu antecessor em um período de transição política. Embora seu tempo como prefeito titular tenha sido curto, sua passagem é um exemplo de como a estrutura política assegurava a governabilidade mesmo em momentos de mudança.

11.2.13. Walter Müller: restrições e melhorias (1964-1966)

Walter Müller assumiu a prefeitura de Ijuí em 1º de janeiro de 1964, em um cenário político municipal marcado por tensões e críticas à administração anterior. Candidato pelo PTB, ele enfrentou uma ampla coligação de outros partidos, a Ação Democrática Popular, mas conseguiu a vitória ao lado de Solon Gonçalves da Silva como seu vice-prefeito, nas eleições de 10 de novembro de 1963. Sua campanha, focada em uma comunicação direta e sem grandes comícios, baseou-se em propaganda de casa em casa, folhetos, cartazes e no jornal "Correio Serrano", culminando em uma expressiva votação de 8.413 votos que o levou ao cargo de chefe do executivo.

Os desafios enfrentados por Müller ao iniciar seu mandato foram consideráveis. A prefeitura estava com uma enorme dívida, herdada da gestão anterior, o que limitou severamente sua capacidade de ação imediata. Tal era a gravidade da situação financeira que o pagamento do funcionalismo municipal só pôde ser regularizado no final de 1964, quase um ano após sua posse. Essa realidade impôs uma prioridade clara: em vez de grandes projetos, a administração de Müller teve que se concentrar em manter as atividades essenciais do município em funcionamento e sanear as finanças.

Apesar das restrições orçamentárias, a gestão de Walter Müller conseguiu realizar importantes melhorias. No setor de infraestrutura, deu continuidade à eletrificação rural e promoveu reformas no interior do município, que incluíram a construção ou recuperação de pontes, pontilhões e bueiros. Uma inovação notável foi a construção de três novas barcas sobre o Rio Ijuí, facilitando a travessia e o escoamento da produção em áreas ainda sem pontes fixas. Na área urbana, foram pavimentadas 26 quadras e implementados cerca de 30 mil metros quadrados de calçamento com pedra irregular, melhorando a mobilidade. A educação e moradia também receberam atenção, com a construção de prédios escolares e oito residências para professores, e a subprefeitura de Bozano ganhou um novo prédio.

A trajetória de Walter Müller como prefeito de Ijuí foi interrompida antes do término oficial de seu mandato. Em 23 de dezembro de 1966, ele passou o cargo ao seu vice, Solon Gonçalves da Silva, para assumir um posto na Câmara Estadual. Essa transição refletiu não apenas sua ascensão política, mas também o reconhecimento de sua capacidade de gestão, mesmo diante de um período inicial conturbado e financeiramente desafiador para o município. Seu legado é de uma administração que, apesar das dificuldades, conseguiu manter o funcionamento essencial da cidade e promover melhorias significativas na infraestrutura e nos serviços públicos.

11.2.14. Solon Gonçalves da Silva: continuidade e eletrificação (1966-1968)

O Dr. Solon Gonçalves da Silva assumiu a prefeitura de Ijuí em 27 de janeiro de 1967 (após a saída do titular), permanecendo no cargo até 31 de janeiro de 1969. Sua assunção se deu como vice-prefeito eleito, após o titular Walter Müller ter sido eleito para a Câmara Estadual. Essa transição garantiu a continuidade administrativa e permitiu que Solon desse prosseguimento e ampliasse as obras iniciadas por seu antecessor, com um foco especial na infraestrutura de energia elétrica.

Durante seu mandato, foram implementadas a eletrificação rural e melhorias significativas nas linhas de transmissão e distribuição, um esforço contínuo para levar energia a mais áreas do município. Esse investimento resultou, inclusive, na diminuição do consumo em alguns setores devido à otimização da rede. Um destaque notável de sua gestão foi a reforma do gerador da Usina Velha, que conseguiu aumentar sua produção em notáveis 70%, impulsionando o fornecimento energético para o município e a região.

Além da área elétrica, Gonçalves demonstrou forte compromisso com a infraestrutura urbana. Ele realizou o calçamento e a recuperação de quadras asfaltadas, essenciais para a mobilidade e o desenvolvimento da cidade. Um projeto notável foi a reconstrução da ponte de 45 metros sobre o Rio Conceição, na estrada que conecta Ijuí a Augusto Pestana, um ponto vital para a integração regional e o escoamento da produção. A Praça da República, importante espaço cívico e social da cidade, também passou por uma remodelação durante sua administração, reforçando seu papel nas comemorações e na vida comunitária, com projeto elaborado pelo arquiteto ijuiense Clóvis Igenfritz da Silva e a arquiteta Inês D'Avila.

No âmbito financeiro e administrativo, Solon Gonçalves enfrentou e superou desafios. Ele conseguiu quitar uma dívida considerável de 400 milhões de cruzeiros do município com a CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica) e obteve um empréstimo de 108 mil cruzeiros para regularizar contas antigas, demonstrando sua competência em gestão fiscal. Sua visão administrativa também se refletiu na reforma da estrutura municipal, com a criação de novas secretarias – como Energia e Comunicação, Administração, Obras Públicas, Educação e Cultura, e Fazenda – e a instituição de importantes departamentos, como o do Bem Estar Social, do Fomento Agropecuário e o Órgão Central de Planejamento. Para coroar sua gestão, no último mês de seu mandato, Ijuí foi escolhida para sediar a Fundação de Integração e Desenvolvimento do Noroeste do Estado (Fidene), com a prefeitura assumindo o compromisso de construir a sede, um marco para o desenvolvimento regional e educacional que seria posteriormente impulsionado pela UNIJUÍ.

11.2.15. Sady Strapazon: rigor financeiro e educação (1969-1973)

Sady Strapazon foi uma figura central na história de Ijuí, servindo como prefeito de 31 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973. Nascido em 1928, enfrentou uma paralisia infantil na infância, mas superou os desafios, tornando-se contador e dedicando 45 anos à profissão. Casado com Maria Weber, construiu uma família com quatro filhos e desde cedo demonstrou vocação para a vida pública, ingressando na política partidária aos 16 anos e ajudando a fundar o PTB.

Sua trajetória política começou com a eleição para vereador em 1951, sendo reeleito em 1955 e 1959. Após a Revolução de 1964 e a subsequente reestruturação partidária que levou à criação da Arena e do MDB, Sadi Strapazon foi um dos fundadores do MDB em Ijuí. Pelo novo partido, concorreu e venceu as eleições municipais de 1968, ao lado de Wanderley Burmann como vice, com uma vitória expressiva de 7566 votos, marcando o início de seu mandato à frente da prefeitura.

A gestão de Strapazon destacou-se por um rigoroso controle financeiro e administrativo. Relatórios da época mostram pagamentos pontuais ao funcionalismo, realização de concursos públicos e cursos de aperfeiçoamento para servidores, evidenciando uma administração focada na eficiência. Um dos pontos mais significativos de sua administração foi a quitação de grandes dívidas acumuladas por gestões anteriores, incluindo um débito de energia de 370 milhões de cruzeiros, vencido há 14 anos. Além disso, ele modernizou a cobrança de impostos, utilizando redes bancárias para facilitar o processo, aumentando a arrecadação municipal.

O ex-prefeito demonstrou um forte compromisso com a educação e a infraestrutura. Durante seu mandato, foram construídas ou reconstruídas 29 escolas municipais e 97 professores foram aprovados em concursos, fortalecendo o corpo docente. Ele também investiu significativamente em bolsas de estudo para 610 alunos, democratizando o acesso à educação. Na infraestrutura, Strapazon liderou a construção ou reforma de 38 pontes, 57 pontilhões e 431 bueiros, além de realizar o empedramento e ensaibramento de estradas no interior, melhorando a conectividade rural. Sua visão também se estendeu à saúde, com investimentos no Departamento Municipal de Bem-Estar Social. Sadi Strapazon é lembrado como uma "enciclopédia viva" da cidade até seus 83 anos, pela sua memória prodigiosa e seu profundo conhecimento da história local.

11.2.16. Emídio Odósio Perondi: educação e a polêmica da Praça dos Imigrantes (1973-1977)

Emídio Odósio Perondi e Wilson Maximino Mânica foram eleitos para a prefeitura de Ijuí em 15 de novembro de 1972, num período em que as eleições eram regidas por um Código Eleitoral da ditadura, que impunha severas restrições à propaganda. A campanha se resumia à apresentação de partido, nome, número e uma breve frase em meios de comunicação limitados, enquanto comícios exigiam autorização prévia. A vitória da chapa da ARENA, com 11.782 votos, foi amplamente impulsionada pelo clima do "Milagre Econômico" e pela intensa propaganda do governo Médici, prometendo prosperidade e influenciando a percepção popular. A gestão de Perondi se estendeu de 31 de janeiro de 1973 a 31 de janeiro de 1977.

Uma das principais realizações e prioridades da administração Perondi foi a adaptação do ensino municipal às reformas educacionais da época, especificamente a Lei 5.692/71 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e a reforma estadual do Rio Grande do Sul. Para tanto, Ijuí criou a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), demonstrando um compromisso com a modernização pedagógica. Houve uma reorganização das escolas, que foram classificadas em "Escolas de Área", destinadas a crianças da 1ª à 8ª série, e "Escolas Tributárias", que atendiam da 1ª à 4ª série, direcionando seus alunos para as Escolas de Área a partir da 5ª série, buscando otimizar a estrutura educacional.

No campo educacional, a gestão de Perondi também investiu na criação de uma Unidade Móvel de Iniciação ao Trabalho. Esta iniciativa consistia em um caminhão equipado com professores, cujo objetivo era ministrar aulas de "Artes Práticas" à comunidade rural e periférica. Contudo, apesar da intenção de levar o ensino prático de forma acessível, a Unidade Móvel de Iniciação ao Trabalho não obteve o sucesso esperado e acabou sendo desativada após um período de funcionamento, representando um investimento que não gerou os resultados almejados.

O ponto mais controverso da administração Perondi foi a tentativa de transformar o antigo cemitério em uma praça, que viria a ser a Praça dos Imigrantes. Essa iniciativa gerou uma forte e generalizada oposição por parte da comunidade, que se recusava a transladar os restos mortais de seus entes queridos ou a permitir escavações nos jazigos familiares. A resistência popular foi tão intensa que culminou em uma intervenção judicial: o juiz Marcio Augusto Ferrari proibiu a continuidade das escavações em 21 de outubro de 1975. Apesar da ordem judicial, o prefeito Perondi manteve sua decisão e iniciou a construção em outubro de 1975, com a demolição dos túmulos e a transferência dos restos mortais para o novo Cemitério Municipal, situado a algumas centenas de metros de distância, na Avenida Getúlio Vargas. Esse episódio revelou as tensões entre o poder público e a sensibilidade da população local.

11.2.17. Wilson Maximino Mânica: ginasião, áreas verdes e política estadual (1977-1984)

Wilson Maximino Mânica, nascido em Ijuí em 1938, foi uma figura proeminente cuja trajetória de vida se entrelaçou profundamente com o desenvolvimento do município e do estado. Antes mesmo de sua entrada formal na política, Mânica já demonstrava um espírito empreendedor notável, especialmente na área da comunicação, tornando-se proprietário da Rádio Repórter e pioneiro ao instalar a primeira emissora FM do interior gaúcho, a Rádio Iguatemi. Sua incursão na vida pública se deu em 1968, quando foi eleito vereador pela ARENA, alcançando a impressionante marca. Ele exerceu este mandato de 1969 a 1972, marcando o início de uma longa e frutífera carreira política.

A ascensão política de Mânica prosseguiu com sua eleição para vice-prefeito de Ijuí, ao lado de Emídio Perondi, em um mandato que se estendeu de fevereiro de 1973 a janeiro de 1977. Essa experiência preparou o terreno para seu papel de maior destaque na administração municipal. Em 1976, Wilson Mânica foi eleito prefeito de Ijuí, cargo que ocupou de 31 de janeiro de 1977 a 31 de janeiro de 1983, tendo Olivar Scherer como vice. Sua gestão como chefe do executivo municipal foi caracterizada por um forte impulso em diversas áreas, com um olhar atento para a infraestrutura, o desenvolvimento urbano e a valorização das tradições locais, como a instituição do feriado de 20 de Setembro, Dia do Gaúcho, em Ijuí.

Como prefeito, Wilson Mânica deixou uma marca indelével em Ijuí através de um conjunto significativo de obras e ações. Entre suas principais realizações, destacam-se a conclusão de grande parte do "Ginasião", que hoje leva seu nome como Ginásio Municipal Wilson Maximino Mânica, e a construção de prédios importantes como a Câmara de Vereadores e a Biblioteca Pública. Ele também foi responsável pela aquisição e desenvolvimento de áreas verdes essenciais, como o Bosque dos Capuchinhos, além da construção da Praça dos Imigrantes no local do antigo cemitério (projeto iniciado na gestão anterior). Sua gestão também se preocupou com a expansão urbana e habitacional, colaborando decisivamente para a implantação do Bairro Modelo, com suas 719 casas e lotes, e a construção de quadras esportivas em diversos bairros e distritos, demonstrando um compromisso com a qualidade de vida e o lazer da população.

A influência de Wilson Mânica transcendeu as fronteiras municipais quando ele ingressou na política estadual. Ele foi eleito deputado estadual pela primeira vez em 1986, pela legenda do Partido Democrático Social (PDS), e obteve mais duas reeleições, em 1990 e 1994, totalizando 12 anos de mandato na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de 1987 a 1998. Durante esse período, Mânica desempenhou papéis relevantes, como vice-líder de bancada e secretário da mesa diretora da casa, atuando na defesa dos interesses de Ijuí e da região noroeste gaúcha em âmbito estadual e contribuindo para a legislação e o desenvolvimento de políticas públicas que beneficiaram um escopo mais amplo da população.

Após mais de uma década dedicada à Assembleia Legislativa, Wilson Mânica optou por retornar à sua paixão original, dedicando-se novamente ao comando do Grupo Mânica de Comunicações, que incluía suas emissoras Rádio Repórter e Iguatemi FM, até seu falecimento em 7 de janeiro de 2003, aos 64 anos. Seu nome está imortalizado nas obras que ajudou a construir e na memória da cidade que tanto contribuiu para transformar.

11.2.18. Wanderley Agostinho Burmann: fim de hegemonia e legado interrompido (1983-1988, 1993-1994)

A trajetória política de Wanderley Agostinho Burmann em Ijuí é marcada por vitórias significativas e um legado interrompido precocemente. Sua presença na vida pública da cidade se consolidou através de duas gestões à frente da prefeitura, ambas obtidas em momentos de transição política e com forte apelo popular.

Sua primeira ascensão ao cargo de prefeito ocorreu em 15 de novembro de 1982, para o mandato que se estendeu de 31 de janeiro de 1983 a 31 de dezembro de 1988. Representando o Partido Democrático Trabalhista (PDT), Wanderley Burmann conquistou a vitória em um pleito disputado, superando o PDS, que administrava o município por mais de uma década, por uma diferença de 564 votos. Essa eleição foi um marco, pois encerrou uma hegemonia do PDS que se estendia por mais de uma década na administração municipal de Ijuí, sinalizando um desejo de mudança por parte do eleitorado. Seu vice-prefeito nesse primeiro mandato foi Valdir Heck.

Uma década depois, em 3 de outubro de 1992, Wanderley Burmann voltou a se sagrar vencedor nas urnas, para o mandato que iniciou em 1º de janeiro de 1993. Essa nova vitória demonstrou a força de sua liderança e a confiança que a população de Ijuí depositava em seu trabalho. Com a preferência de 45% do eleitorado, ele foi eleito prefeito pela segunda vez. Novamente, superou a candidatura do PDS, desta vez liderada por Julio Magalhães. Além disso, Burmann também venceu Suimar Bressan, que representava a Frente Popular, uma ampla coligação formada por partidos como PMDB, PT, PSDB e PPS, o que reforça a magnitude de sua vitória e a amplitude de seu apoio popular. Gerson de Vlieger Ferreira foi seu vice nesse segundo mandato.

Infelizmente, sua segunda gestão foi abreviada. Em 4 de junho de 1994, após um período de intensa enfermidade, Wanderley Burmann faleceu devido a complicações hepáticas irreversíveis. Sua morte representou uma perda significativa para a política local e para a comunidade de Ijuí, que o reconhecia como um líder carismático e comprometido com o desenvolvimento do município. Burmann deixou um legado de renovação política e dedicação à gestão pública, marcando a história de Ijuí com suas duas passagens pelo cargo de prefeito.

11.2.19. Gerson Ferreira: o vice que concluiu (1994-1996)

Com o falecimento de Wanderley Agostinho Burmann em 4 de junho de 1994, o então vice-prefeito, Gerson de Vlieger Ferreira, assumiu a chefia do executivo municipal de Ijuí. Sua posse ocorreu em 7 de junho de 1994, e ele permaneceu no cargo até 31 de dezembro de 1996, cumprindo o restante do mandato.

A ascensão de Gerson Ferreira ao cargo de prefeito se deu em um momento delicado para o município, que enfrentava o luto pela perda de um líder popular. Sua principal missão foi garantir a continuidade administrativa, assegurando que os serviços públicos essenciais não fossem interrompidos e que os projetos em andamento tivessem prosseguimento. Sua atuação foi crucial para manter a estabilidade política e administrativa de Ijuí em um período de transição.

A figura de Gerson Ferreira, ao assumir e concluir o mandato, representa a resiliência institucional do município, demonstrando a capacidade da estrutura de governo de manter o funcionamento e a governabilidade mesmo diante de eventos inesperados. Sua gestão preparou o terreno para a próxima eleição municipal, garantindo uma transição democrática e organizada.

11.2.20. Ortiz Iboti Schröer: um visionário em uma nova era política (1997-2000)

A trajetória política de Ortiz Iboti Schröer ganhou destaque de forma contundente nas eleições municipais de 4 de outubro de 1996, um pleito que redefiniu o panorama político de Ijuí. Representando o Partido Progressista Brasileiro (PPB), Schröer concorreu à prefeitura em uma chapa composta por Breno Weber (PMDB) como seu vice, formando a coligação "Ijuí Unido e Forte". O mandato se estendeu de 1º de janeiro de 1997 a 31 de dezembro de 2000.

A campanha foi marcada por desafios, especialmente na definição da chapa principal, e a vitória veio após um período de grande incerteza. Em um cenário com quatro chapas disputando a liderança do executivo municipal, Ortiz Iboti Schröer e Breno Weber conquistaram a eleição por uma margem extremamente apertada, de apenas 429 votos. O resultado final registrou 16.993 votos para a chapa vencedora, refletindo a polarização e a competitividade do pleito.

Essa vitória não foi apenas a conquista de um mandato, mas representou uma alteração política sem precedentes para Ijuí, pois encerrou um ciclo de mais de uma década de administração ligada à corrente trabalhista na cidade. A eleição de Ortiz e Weber assinalou uma mudança de rumo na gestão municipal, abrindo um novo capítulo na história política de Ijuí e demonstrando a capacidade da coligação "Ijuí Unido e Forte" de articular apoio e superar forças políticas já consolidadas na região. A administração de Schröer teve o desafio de consolidar essa nova direção e de implementar as propostas que o levaram à vitória, buscando modernizar e inovar a gestão municipal.

11.2.21. Valdir Heck: Longa trajetória e múltiplos mandatos (1989-1992, 2001-2008, 2017-2020)

Valdir Heck construiu uma sólida e longeva carreira na vida pública de Ijuí, marcada por múltiplas passagens pela gestão municipal e atuação relevante no cenário estadual. Sua trajetória demonstra uma constante dedicação ao serviço público e uma forte conexão com o eleitorado local, tornando-o um dos gestores mais emblemáticos da cidade.

A jornada de Heck no serviço público começou em 1982, quando foi eleito vice-prefeito do município de Ijuí, ao lado de Wanderley Burmann, dando os primeiros passos em cargos executivos. Poucos anos depois, em 1988, ele ascendeu ao cargo máximo do executivo municipal, sendo eleito prefeito de Ijuí e cumprindo integralmente seu mandato no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de dezembro de 1992, tendo Astor Mayer como vice.

Sua atuação não se limitou à esfera municipal. Em 1994, Valdir Heck ampliou seu raio de ação ao ser eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul, exercendo o mandato durante a 49ª legislatura (1995-1999).

O retorno à prefeitura de Ijuí se deu em 2001, quando assumiu um segundo mandato (de 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2004), tendo Gerson Burmann como vice. A confiança dos eleitores foi reafirmada em 2004, com sua reeleição para um terceiro período consecutivo de quatro anos (de 1º de janeiro de 2005 a 31 de dezembro de 2008), consolidando sua influência na administração municipal e destacando Fioravante Batista Ballin como vice eleito em 2004 (e reeleito prefeito em 2008).

Entre seus mandatos como prefeito, Valdir Heck também contribuiu em outras esferas, como membro do Comitê de Auditoria do Banrisul. 

A relevância de sua figura política foi mais uma vez comprovada em 2016, quando foi eleito novamente prefeito de Ijuí, pelo PDT, para o mandato de 1º de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2020, com Valdir Domingos Zardin (PP) como vice. Essa vitória expressiva, com 65% dos votos válidos contra a Chapa do ex-vice prefeito de Ijuí, Ubirajara Machado Teixeira. Herck, marcou seu quarto mandato à frente do executivo municipal, um feito que poucos políticos alcançam, sublinhando sua popularidade e a confiança que a comunidade de Ijuí deposita em sua liderança. Valdir Heck é, sem dúvida, um dos personagens mais duradouros e influentes da política ijuiense.

11.2.22. Fioravante Batista Ballin: reeleições e continuidade (2009-2016)

Fioravante Batista Ballin foi uma figura política proeminente em Ijuí, com uma trajetória que se destacou pela continuidade e estabilidade de suas gestões. Após ter atuado como vice-prefeito de Valdir Heck no mandato de 2005-2008, ele ascendeu ao cargo de chefe do executivo municipal.

Ballin assumiu a prefeitura de Ijuí em 1º de janeiro de 2009, e demonstrou a confiança do eleitorado em sua capacidade de gestão ao ser reeleito. Seu primeiro mandato como prefeito se estendeu até 31 de dezembro de 2012, com Ubirajara Machado Teixeira (PT) como vice. A reeleição em 2012 garantiu que permanecesse no cargo por mais um período, de 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2016.

Durante seus dois mandatos completos como prefeito, Fioravante Batista Ballin liderou a administração municipal em um período de consolidação de projetos e enfrentamento de desafios contemporâneos. Sua reeleição, obtida em sufrágio universal, reflete a aprovação popular de suas ações e uma percepção de estabilidade administrativa por parte da comunidade. A permanência por oito anos no cargo de prefeito demonstra sua capacidade de manter a cidade em desenvolvimento e de responder às demandas da população, preparando o terreno para a gestão que o sucederia.

11.2.23. Andrei Cossetin: o olhar técnico que elevou Ijuí ao cenário nacional (2021/2028)

A gestão de Andrei Cossetin, iniciada em 1º de janeiro de 2021 com Marcos Barriquello (PL) como vice-prefeito, representa um período de notável ascensão e consolidação para Ijuí, impulsionada por um olhar técnico e estratégico para o desenvolvimento. A confiança depositada pela população resultou em sua reeleição, garantindo a continuidade da administração até 31 de dezembro de 2028, um claro indicativo da aprovação popular e dos frutos colhidos até então.

Um dos mais significativos reflexos dessa gestão voltada para a modernização e eficiência é o desempenho excepcional de Ijuí foi no ranqueamento de competitividade de municípios. Este estudo posicionou Ijuí como um dos maiores destaques gaúchos, alcançando o 2º lugar no Rio Grande do Sul e a 26ª colocação no Brasil em competitividade geral. Notavelmente, Ijuí é o único município do interior do RS a receber tamanho destaque, evidenciando o impacto das políticas públicas implementadas. Na Região Sul, Ijuí figura na 9ª colocação, um feito notável ao lado de grandes centros.

Os pilares que sustentam essa ascensão – abrangendo áreas como infraestrutura, saúde, educação e inovação – refletem o foco estratégico da administração Cossetin-Barriquello. 

A reeleição de Andrei Cossetin em 2024 com 72,57% (a maior diferença da história política de Ijuí -  21.869 votos) não foi apenas a continuidade de um projeto político, mas a reafirmação de um caminho de sucesso que tem posicionado Ijuí em um patamar de destaque, conciliando sua rica identidade como "Capital Mundial das Etnias" com uma visão de futuro pautada pela sustentabilidade, inovação e excelência na gestão pública. A permanência da gestão foi fundamental para a projeção e consolidação de Ijuí no cenário regional e nacional, assegurando a qualidade de vida de seus habitantes nos próximos anos e solidificando sua reputação como um polo de desenvolvimento e oportunidades.